Falamos com Irene Moulas, coordenadora do Guia de Boas Práticas em Segurança Humana

Na sexta-feira 24 de fevereiro de 2023, foi apresentado em Barcelona o Guia de Boas Práticas em Segurança Humana, produzido pelo Grupo de Trabalho sobre Segurança Humana e Construção Comunitária. Para abordar este guia, vamos entrevistar sua coordenadora, Irene Moulas.
RISE – Muito obrigado por aceitar este convite. Antes de mais, poderia por favor apresentar-se?
I: Eu sou Irene Moulas, membro da cooperativa Etcèteres. Sou psicóloga social e comunitária. Acompanhei este processo de elaboração do guia de segurança humana a partir de um projecto da Câmara Municipal de Barcelona denominado Energias Comunitárias. Também escrevo para a revista NEXES da Federação de Cooperativas de Trabalho da Catalunha. Sou uma pessoa do bairro e uma activista.
RISE – Qual é o objectivo deste guia?
I: Este guia é uma tentativa de sistematizar um processo de trabalho realizado por um grupo sobre o conceito de segurança humana feito a partir dos bairros. Nasceu do projecto Energias Comunitárias através do impulso de Josep María Navarro, da cooperativa La Fàbrica.
A publicação destaca todas as aprendizagens e reflexões do grupo. As opiniões têm sido muito diversas e isto permitiu-nos construir o conceito de segurança humana a partir de uma perspectiva não policial, mas sim de uma perspectiva comunitária. Verificámos que muitas figuras técnicas que trabalham directamente nos bairros não tiveram uma resposta a certos problemas. Tivemos diferentes projectos para abordar a forma de responder a situações e conflitos que respondem a um quadro mais estrutural e global. Isto acontece em todo o lado. Cada um com a sua própria especialidade.
RISE- O que é que encontramos dentro do guia?
IRENE – Há uma introdução e apresentação do grupo, quem está nele, os seus objectivos e um pouco da sua história. Queremos explicar de onde surgiu a ideia de trabalhar nesta questão, a fim de compreender as conclusões a que chegámos. Não se pretende que seja replicável. É um guia com a intenção de avaliar as reflexões conjuntas que foram feitas e as diferentes respostas comunitárias que foram detectadas.
Explicamos os projectos que abordámos para ver a casuística de cada bairro. Também descrevemos o conceito de segurança humana e depois os elementos comuns que podemos extrair. A terminar, fizemos algumas reflexões sobre o conceito no actual momento pós-pandémico.
Os projectos com que temos estado envolvidos são Mães contra a Droga em Madrid, Caminhos Escolares, o processo de paz na Colômbia, o projecto de mediação contra a islamofobia, o protocolo contra a agressão masculina em Poblesec, a cozinha Gregal e a prevenção antifascista, Acción Raval, transforma, Fem Baró, Asociación Coordinadora de la Trinitat Vella, Desdelamina.net (sota, caballo y rey), La Fábrica. Mesas de convivência de Baró de Viver y Bon Pastor, el Rec es mou! e Asociación de vecinas Besòs – Sant Adrià.
RISE – O que é que se entende por segurança humana?
I: É uma segurança construída por e para os residentes do bairro, construída a nível comunitário. Não a nível da polícia. É construído com participação, acessibilidade, horizontalidade e diversidade. Concentra-se na promoção e prevenção. Não se trata de mediação. Trata-se de fazer uma análise multifactorial dos problemas, a fim de lidar com os mais estruturais. Trabalha para uma identidade comum, coesão social, e para satisfazer as necessidades básicas do bairro. Neste sentido, a polícia deveria ser mais um actor que acompanha os processos. Ela não determina o seu trabalho com base em relações de poder baseadas em critérios estabelecidos corporativamente. O papel da polícia é um tema que permanece aberto no guia. É uma linha de investigação adicional.
RISE – Como tem sido o trabalho de colaboração no desenvolvimento do guia?
IRENE – O guia é feito por muitas pessoas. No âmbito das Energias Comunitárias, foram realizadas diferentes sessões. Procurámos uma experiência prática e explorámos a sua ligação com o conceito. Após as primeiras sessões, o grupo de trabalho surgiu e começou a funcionar de forma autónoma. Havia vários profissionais interessados no assunto. Tinham perfis muito diversos. A partir daí, o grupo fez a sua própria viagem, workshops, etc., o documento 2020 foi publicado com a editora Neret e o grupo foi apresentado numa Feira de Economia Social e Solidária.
Gostaria de dar os nomes das pessoas que conjuntamente levaram a proposta avante: Antonio Alcántara, Lito Barea, Youssef Bouajaj Hadiq, Houda Dahbi, Fatima Hassoun, Alejandra López, Carlota López, Inés Martínez, Josep Maria Navarro, Fàtima Taleb e Mercè Zegrí.
RISE – Estamos realmente ansiosos por lê-lo agora mesmo, como é que o podemos obter?
I: O guia pode ser baixado gratuitamente (em breve estará disponível em inglês). Também publicamos a apresentação no Instagram. Espero que este guia ajude a inspirar processos e ações em torno do conceito de segurança humana.